O Chargista

Sou de 1960. Iniciei como publicitário em 1982 na agência de propaganda S&G Publicidade, do saudoso Assis Santos. Vi no jornal o seguinte anúncio: “Se você sabe desenhar e confia no seu taco, venha falar comigo”. Fiz um teste e fui aprovado pelo Assis Santos. Lá eu trabalhei inicialmente como “past-up”, que naquele tempo, era o cara que colava os anúncios, com cola de sapateiro mesmo.

Era tudo feito artesanalmente. Não tinha essa coisa de computador, nem CorelDraw, Illustrator, Photoshop, InDesign…tudo era feito à mão mesmo. Cada um de nós tínhamos uma prancheta com régua paralela e luminária, uma lata de cola de sapateiro, um tubo de benzina (para diluir a cola e também servia para matar moscas), tesouras, estilete, cola branca, cola bastão (a velha Pritt), régua, esquadros, curvas francesas, aerógrafo, ecoline, kodalit, letrafilm de retículas, gabaritos de elipses, bigode, meleca, cartão hoellershammer, compasso, fita durex, tinta guache, pincéis e as inigualáveis canetas à tinta nankim da marca Rotring, pois eram as melhores.

Agora nós tínhamos o que raramente de encontra hoje: imaginação. Não existia o google para pegar ideias dos outros. A gente tinha que criar mesmo os anúncios.

Naquele tempo, todo “past up” queria chegar a “layoutista” ou “Artefinalista”. O cara do “layout” trabalhava unicamente com tinta guache para desenhar o anúncio colorido para apresentar ao cliente. Depois que o anúncio era criado a gente colava no papel “carmem” preto com “pas partout” e cobria com o papel manteiga e o contato publicitário levava ao cliente para aprovação. Depois de aprovado, o “layout” era então entregue ao “artefinalista” para transformar o desenho feito em guache em fotografia e depois mandar para o veículo onde seria veiculado. O artefinalista tinha inclusive que saber qual a tipologia que o “layoutista” desenhou para mandar comprar a cartela de “letraset”.

Depois da SG propaganda, trabalhei em outras agências (quase todas extintas) como a Close Propaganda do Vanderlou Oliveira, a P.A. Publicidade do Paulo José, a Top Service do Aldemir Sobreira etc.

Em 1985 fui convidado pelo jornalista Aldemir Sobreira para trabalhar no extinto e saudoso jornal Tribuna do Ceará, do ex-senador José Afonso Sancho. No jornal eu fazia a página de quadrinhos e escrevia semanalmente no tabloide TC Dimensão da Solange Palhano, hoje, diretora do Jornal O Estado.

Em 1987 fui trabalhar no récem fundado jornal Diário do Nordeste, que naquele tempo era o auge. Lá fiquei trabalhando no Departamento de Arte e fazia a charge diária na Coluna É… do jornalista Neno Cavalcante.

Em 1990 fui para Roraima. Lá fui um dos fundadores do jornal Diário de Roraima, com o jornalista C. Neto, e fazia a charge diária. Ficamos lá dois anos e depois voltamos para Fortaleza.

Desde 1982 até hoje, tenho me envolvido em muitos projetos publicitários, com muitas agências, pequenas e grandes, muitas não existem mais. Uma coisa eu posso lhe garantir: no tempo que não existia computador, éramos mais criativos e praticamente todos se conheciam e havia muita interação entre as agências, ilustradores, desenhistas e contatos publicitários. Muitas profissões se acabaram como a de laboratorista, layoutista e past-up. Como não existia os “cliparts” o desenhista era um profissional super disputado entre as agências.